L¨¢zaro C¨¢rdenas: afetado, mas n?o afundado
Na segunda-feira passada o M¨¦xico retomou o controle desta zona de Michoac¨¢n


Ao ser constru¨ªdo, h¨¢ 35 anos, o porto L¨¢zaro C¨¢rdenas, no sudoeste do Pac¨ªfico mexicano, se destinava a ser o cora??o econ?mico do estado de Michocac¨¢n. ¡°Morelia, a capital do estado, nunca teve controle desta zona, que sempre foi impulsionada pelo governo federal¡±, comenta um prestigiado pesquisador mexicano. Embora a constru??o do porto seja posterior, foi o general L¨¢zaro C¨¢rdenas, presidente do M¨¦xico entre 1934 e 1940, quem criou a cidade para desenvolver a ind¨²stria sider¨²rgica na regi?o. H¨¢ mais de oito anos, e at¨¦ a segunda-feira passada, o porto, ¡°o mais importante em volume de carga geral, o segundo em manejo de containers e o terceiro em importa??o e exporta??o¡±, segundo declarou esta semana o governo de Pe?a Nieto, era um territ¨®rio sequestrado. Devido ao seu valor estrat¨¦gico, em 2006 os carteis da droga ¨C a Fam¨ªlia Michoacana primeiro, e os Cavaleiros Templ¨¢rios depois ¨C assumiram o controle das atividades na ¨¢rea, permitindo o tr¨¢fico ilegal de subst?ncias ¨C coca¨ªna do sul e precursores das metanfetaminas provenientes da ?sia. Conforme publicou na ter?a-feira o jornal Milenio, os criminosos decidiram estabelecer suas atividades ilegais em L¨¢zaro C¨¢rdenas ¡°combinadas com a lavagem de dinheiro mediante atividades legais¡± diversas, como a compra e venda de im¨®veis e de gado e a importa??o de roupas da China, entre outras.
¡°Todo mundo sabia o que acontecia l¨¢, o CISEN (Centro de Investiga??o e Seguran?a Nacional) tamb¨¦m, mas durante anos nada foi feito, deixaram passar¡±, comenta novamente o analista. Na segunda-feira passada, o ex¨¦rcito entrou no porto, desarmou os 113 agentes da pol¨ªcia municipal e assumiu o controle da zona. ¡°A interven??o estava anunciada h¨¢ meses¡±, acrescentou. ? parte o mercado ilegal de subst?ncias, a tomada de L¨¢zaro C¨¢rdenas revelou uma trama de extors?es de dimens?es assustadoras de quaisquer neg¨®cios operando no porto que chegava a cobrar cotas de at¨¦ 10% da produ??o de cada empresa. ¡°O que espanta ¨¦ que a descoberta deste neg¨®cio ilegal de propor??es incalcul¨¢veis n?o se deu de um dia para o outro. ? um fen?meno que foi se desenvolvendo ao longo dos anos; nas tr¨ºs d¨¦cadas desde que foi constru¨ªdo e fundado o porto, com a esperan?a de fomentar o desenvolvimento da regi?o¡±, escreveu na quarta-feira o jornalista Ricardo Rocha no jornal El Universal.
Contudo, a extors?o ¨¦ comum nos munic¨ªpios de Tierra Caliente, onde reinam os Templ¨¢rios. Os habitantes desta regi?o econ?mica, que re¨²ne povoados de Michoac¨¢n e do estado de Guerrero, vivem principalmente da pecu¨¢ria e do cultivo de algumas frutas, especialmente o lim?o. Devido ¨¤ sua topografia, que dificulta o acesso, a serra ¨¦ um esconderijo perfeito para os carteis. Em fevereiro passado, mais de 30 comunidades se al?aram em armas. Os chamados grupos de autodefesa, civis que decidiram fazer justi?a com as pr¨®prias m?os ante o abuso do crime organizado, marcharam no dia 26 de outubro at¨¦ a cidade de Apazting¨¢n, a maior da regi?o, com quase 100 mil habitantes. Um ataque com granadas e v¨¢rios disparos na pra?a central foi o primeiro de uma s¨¦rie de enfrentamentos armados que mergulharam Michoac¨¢n na sua mais recente crise de viol¨ºncia. Os acontecimentos daquele s¨¢bado explicam a tomada de L¨¢zaro C¨¢rdenas. ¡°Foi uma medida reativa¡±, diz o pesquisador Alejandro Hope, ¡°e ¨¦ bom que tenha sido tomada, mas n?o ¨¦ suficiente. As atividades dos Templ¨¢rios n?o foram desmanteladas, s¨® atrapalhadas. O problema das guardas comunit¨¢rias e da crise pol¨ªtica no estado tampouco foi resolvido [o governador Fausto Vallejo acaba de voltar, depois de cinco meses de aus¨ºncia por uma doen?a que n?o foi divulgada]¡±.
¡°O porto de L¨¢zaro C¨¢rdenas ¨¦ um fator fundamental no com¨¦rcio exterior do nosso pa¨ªs¡±, declarou o governo federal na segunda-feira. Por ali s?o importados e exportados principalmente minerais, produtos agr¨ªcolas, ve¨ªculos e l¨ªquidos, com pa¨ªses asi¨¢ticos e da Am¨¦rica Latina. ¡°As opera??es alfandeg¨¢rias realizadas no porto t¨ºm import?ncia estrat¨¦gica para o Servi?o de Administra??o Tribut¨¢ria. Neste ano houve 91.296 opera??es de com¨¦rcio exterior. O valor das importa??es ¨¦ de pouco mais de 121.825 milh?es de pesos (9.205 milh?es de d¨®lares) e o das exporta??es de 43.182 milh?es de pesos (3.263 milh?es de d¨®lares)¡±. Segundo o governo federal, o porto acolhe diariamente opera??es comerciais com 41 empresas privadas e entidades p¨²blicas, como PEMEX e a Comiss?o Federal de Eletricidade. Por isso, ¨¦ dif¨ªcil entender como um porto de tal envergadura, num pa¨ªs membro da OCDE que ocupa o posto de 14? na lista dos mais ricos, p?de ficar sequestrado por quase uma d¨¦cada sem que ningu¨¦m interviesse.
¡°Houve cumplicidade¡±, afirma Hope. ¡°O governo local estava cooptado pelo crime, houve cumplicidade de uma parte do governo estadual e tamb¨¦m das ag¨ºncias federais, seja por intimida??o ou por corrup??o. Por exemplo, a Alf?ndega nunca foi depurada¡±. A fam¨ªlia de Leonel Godoy, governador de Michoac¨¢n entre 2008 e 2012, ¨¦ oriunda de L¨¢zaro C¨¢rdenas. O seu meio-irm?o, Julio C¨¦sar Gogoy Toscano, hoje fugitivo da justi?a depois de ter sido acusado de liga??o com o tr¨¢fico, foi presidente municipal em 2009 e neste mesmo ano se candidatou a deputado federal, algo impens¨¢vel em outro estado da Rep¨²blica se ele n?o contasse com o apoio do governador, seu irm?o, do mesmo partido, o esquerdista PRD.
Recentemente, Luisa Mar¨ªa Calder¨®n, senadora do PAN, ex-candidata a governadora do estado nas ¨²ltimas elei??es e irm? do ex-presidente da Rep¨²blica, Felipe Calder¨®n (2006-2012), vinculou as institui??es pol¨ªticas e a cidade de Apatzing¨¢n ao crime organizado em entrevista a EL PA?S: ¡°O prefeito ¨¦ primo do Chayo [Nazario Moreno Gonz¨¢lez, l¨ªder do cartel da Fam¨ªlia Michoacana, dado por morto em 2010], a tesoureira era esposa do Chango [Jos¨¦ de Jes¨²s M¨¦ndez Vargas, cabe?a deste mesmo grupo], al¨ª est?o as suas casas, as suas fam¨ªlias, ali guardam as suas armas, ali eles se abastecem de gasolina¡±.
Nesta quarta-feira, a Pol¨ªcia Federal anunciou a deten??o de Leopoldo Jaime Valladares, irm?o de Jos¨¦ Guadalupe Jaime Valladares, ex-presidente municipal interino de Apatzing¨¢n. Ele ¨¦ acusado de ser o poss¨ªvel respons¨¢vel pelos delitos de porte de arma de uso exclusivo das for?as armadas, extors?o e roubo de ve¨ªculo e est¨¢ sendo investigada a sua participa??o nos ataques contra instala??es da Comiss?o Federal de Eletricidade, na madrugada de domingo, 27 de outubro, que deixaram centenas de milhares de pessoas sem energia el¨¦trica.
Enquanto isso, o governo federal anunciou a ocupa??o ¡°indefinida¡± do porto de L¨¢zaro C¨¢rdenas. ¡°A efic¨¢cia da medida depender¨¢ do tempo que dure e do que se fa?a no entorno¡±, concluiu Hope. ¡°Precisamos nos perguntar: e depois? Como os criminosos v?o se adaptar?¡±
Tradu??o de Cristina Cavalcanti
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